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Nas fazendas brasileiras, uma planta antes conhecida apenas por alimentar o gado agora ganha novos holofotes. O capim-elefante BRS Capiaçu, desenvolvido pela Embrapa, está sendo testado como fonte de energia renovável em indústrias e propriedades rurais. A versatilidade e a alta produtividade dessa gramínea perene chamaram atenção de pesquisadores e empresas interessadas em alternativas ao carvão, ao gás natural e até mesmo à lenha.

Uma nova pesquisa publicada no periódico Energies detalha como a biomassa desse capim pode gerar eletricidade, calor e biogás de forma sustentável e competitiva.

Com cortes múltiplos ao longo do ano e capacidade de crescer mais de quatro metros de altura, o BRS Capiaçu se diferencia por produzir grandes volumes de massa vegetal em pouco tempo. O estudo mostra que sua biomassa tem poder calorífico comparável ao da cana-de-açúcar e do bagaço de madeira, mas com menor custo por tonelada.

Mais do que uma promessa teórica, o capim já começa a ser usado em testes reais, como em uma fábrica de cimento em Goiás, onde substituiu parte do coque de petróleo nos fornos industriais. A planta, que parecia comum nas paisagens rurais, pode estar no centro de uma revolução energética silenciosa.

Um combustível verde que brota do chão

Ao contrário de combustíveis fósseis, o capim-elefante se renova naturalmente após cada corte. Isso o torna uma opção de energia vegetal contínua, com ciclos curtos e baixos impactos ambientais. Segundo a pesquisa, o Capiaçu pode produzir até 50 toneladas de matéria seca por hectare por ano, um número bem acima da média de culturas como o milho e o sorgo. Com esse volume, a biomassa pode ser usada diretamente em caldeiras ou transformada em briquetes e pellets, formas mais densas e fáceis de transportar.

A produção energética ocorre por meio da queima direta, da digestão anaeróbia (para produção de biogás) ou mesmo da extração de etanol celulósico, aproveitando os açúcares das fibras vegetais. Além disso, há uma vantagem climática relevante: como o capim cresce rapidamente, ele absorve dióxido de carbono da atmosfera em altas taxas. Assim, seu uso como energia pode reduzir a pegada de carbono de indústrias e propriedades que hoje dependem de fontes não renováveis. Em outras palavras, o que era antes só ração, agora também vira combustível verde.

Por que o capim se destaca entre outras biomassas

Em meio a tantas opções para gerar energia a partir de plantas, o Capiaçu se sobressai por características específicas que o tornam mais atrativo para pequenos, médios e grandes produtores. Entre os destaques apontados pelo estudo, estão:

Crescimento rápido e cortes múltiplos por ano

Alta produtividade de biomassa por hectare

Capacidade de se adaptar a diferentes regiões do Brasil

Facilidade de manejo com máquinas agrícolas convencionais

Poder calorífico semelhante ao de resíduos industriais como bagaço de cana

Outra vantagem é que o Capiaçu exige menos insumos por tonelada produzida. Como não precisa ser replantado todo ano, seus custos de cultivo se diluem ao longo do tempo. Isso torna o capim uma alternativa viável para diversificar fontes de energia, principalmente em áreas com disponibilidade de solo, mas com restrições logísticas ou econômicas para outras culturas energéticas mais exigentes.

Da roça à indústria: o caminho brasileiro para a energia do capim

No Brasil, o uso energético do capim-elefante ainda é recente, mas já começa a ganhar força. A Embrapa vem liderando projetos em parceria com universidades, cooperativas e empresas, testando o Capiaçu em diferentes contextos: de biodigestores em propriedades rurais a fornos industriais em cimenteiras.

Uma das experiências mais promissoras acontece em Minas Gerais, onde produtores de leite utilizam a sobra de silagem para alimentar caldeiras que aquecem água ou geram eletricidade em pequenas usinas.

Apesar do potencial, há desafios. A logística de colheita e transporte ainda precisa ser aprimorada, e faltam políticas públicas que incentivem o uso de biomassa de capim em larga escala.

No entanto, o cenário é promissor. Com o avanço das tecnologias e o aumento da demanda por fontes renováveis, o Capiaçu pode se consolidar como um elo importante entre agricultura, energia e sustentabilidade. O campo brasileiro, mais uma vez, pode ser a resposta para problemas urbanos, agora, com o verde do capim alimentando o futuro energético do país.

Referência da notícia

Elephant Grass Cultivar BRS Capiaçu as Sustainable Biomass for Energy Generation in the Amazon Biome of the Mato Grosso State. 30 de outubro, 2024, Beber, R. C., Turini, C. d. S., Beber, V. C., Nogueira, R. M., & Pires, E. M.